Pavilhão OpenSource - Concepção
O workshop teve como produto material as maquetes de arquitetura experimental e compacta, nas dimensões máximas de 15x15x15m, reduzidas à escala de um modelo representativo. Novas funções, novas tecnologias, incorporação da informação e da linguagem nos espaços edificados, promovendo comunicação e interatividade.
As etapas de produção consistiram em:
I. Concepções e reflexões teóricas acerca da produção do espaço no tempo da informação.
Leituras, apresentações de seminários, atividades práticas e discussões reforçaram a percepção dos grupos acerca da incorporação da tecnologia e da informação nos espaços. Para o desenvolvimento do pavilhão, foram estabelecidos alguns parâmetros de uso, estrutura, conceito e tecnologia.
Pensou-se, assim, o Tsuru Pavilion itinerante, em uma linguagem open use, tecnológica, Do It Yourself (DIY), com estruturas modulares e flexíveis, e com vedações capazes de auxiliar no conforto ambiental e em um balanço energético positivo, que pudesse ser convertido em fornecimento de energia à comunidade onde estivesse implantado.
A utilização do Tsuru Pavilion não foi definida, já que o espaço foi pensado como uma estrutura inicial, que pudesse ser incrementada e incorporada em formas e utilizações segundo as demandas de diferentes grupos sociais e regiões. Esboçou-se, assim, a incorporação de tecnologia ao modelo, sobretudo por meio da membrana video mapping, que reveste toda sua superfície, permitindo a projeção de formas exteriores ou imagens propostas pelos usuários nas faces do pavilhão, para que o espaço absorva a linguagem do usuário local, que traz ao local, ainda, a possibilidade de interferência e efetivação do conceito DIY.
As aberturas (janela e portal) propostas também contam com preceitos tecnológicos, e os veios delimitados pelo modelo Voronoi foram pensados como barras cujo material fosse, semelhantemente ao silício que compõe as placas solares, capaz de absorver a radiação solar, gerando energia para sua manutenção. A utilização do pavilhão também geraria energia, pela circulação interna de pessoas e atividades ali desenvolvidas. Por isso, a energia excedente seria redistribuída à comunidade local.
Pela proposta itinerante de uso, estabeleceu-se que a configuração formal do modelo deveria transmitir imponência, para que tivesse destaque em seu local de implantação, mas também leveza, transmitindo sua capacidade de adaptação, dinâmica e movimentação, tanto física quanto conceitual.
II. Modelagem simplificada de malhas triangulares e superfícies inclinadas utilizando software Sketchup.
Utilizou-se, nesta etapa, a ideia virtual de um modelo de 15x15x15cm, para a estruturação de um modelo de dimensões padronizadas (representativo de uma edificação de 15x15x15m). A figura cúbica foi moldada, de diferentes formas, por cada um dos grupos participantes, mantendo uma das faces originais, ou seja, com 4 arestas de referência para a montagem.
O modelo Tsuru Pavilion foi formado a partir do fatiamento diagonal de três faces laterais, sempre do ponto inferior esquerdo para o ponto superior direito. No caso desta forma, as diagonais traçadas eram movimentadas para dentro da figura, iniciando a dinâmica de sua concepção formal. Em seguida, demarcou-se, semelhantemente, a diagonal da face superior, que, ao ser movimentada para baixo, em convergência com as outras diagonais, promoveu a configuração semelhante à dos Tsurus orientais, como pretendido.
A partir da concepção do modelo - ainda um sólido fechado - foram analisadas as faces que poderiam ser convertidas em vedações e aberturas, pensando na utilização como pavilhão opensource. Optou-se pela abertura de duas faces triangulares, uma posicionada na parte superior e outra na face inferior do modelo.
A primeira face, superior, conta com a leve inclinação que representa a possibilidade de implantação de janela, em uma abertura quase zenital, cuja angulação pode ser regulada segundo a demanda de iluminação natural, equilibrada às condições de insolação e conforto térmico no local de montagem do pavilhão. Considerou-se, para esta face, o padrão Voronoi em aberturas medianas, que poderiam ser ajustadas segundo o local de implantação do modelo.
A segunda face foi pensada na parte inferior, vislumbrada como uma possibilidade de porta ou portal, mas sem margens, molduras ou outros elementos que demarquem, dividam e territorializem o espaço do pavilhão. O portal, sutil, conta com outra face adjacente, inclinada, pensada como um beiral, que pode ser estrategicamente reposicionado segundo a trajetória solar da região.
O sulco resultante da aresta contida na junção das 'asas' do tsuru foi pensado como uma calha, componente do modelo de telhado borboleta. O telhado e as estruturas de vedação foram projetados como uma membrana com propriedades de video mapping, corroborando à utilização desejada e à camuflagem/integração do pavilhão itinerante ao local de implantação. A configuração formal obtida foi pensada, ainda, como forma de concepção de mobiliário interno e urbano, apresentando diversas possibilidades de utilização.
III. Planificação das superfícies triangulares utilizando software Pepakura Design
O software Pepakura auxiliou na planificação do modelo 3D, exportado em extensão .3ds, permitindo, também, a visualização da composição e harmonia das faces. No Pepakura, foram acionadas as abas import > no flip > escala: 0.1 (=1/100) > print and paper settings > formato A1 > unfold > na Barra de Ferramentas Principal > Set Material to Faces. Em seguida, o modelo foi exportado para o formado PDF, dentro da aba file.
IV. Construção de maquete física a partir da montagem das impressões das superfícies planificadas
O PDF gerado foi exportado para o software AutoCad (insert > attach (scale 2.54)), selecionando a opção de fundo branco na configuraçaõ do display, para melhor visualização. Em seguida, foram redesenhadas as arestas das duas faces que foram detalhadas e impressas.
Ainda no AutoCad, selecionou-se a opção de formato .dxf, dentro de wblock. Este formato foi selecionado para a exportação das arestas para o software Rhinoceros 3D, em sua versão com Grasshopper incluso.
No Rhinoceros 3D, selecionou-se a aba new document (padrão mm) > import .dxf > units > cm (não) > surface > edge curves. Em seguida, foram selecionadas as arestas da face que se desejava agrupar, acionando-se, a partir daí, o Grasshopper.
No Grasshopper, clicou-se na pilha SRF com botão direito > set one surface > selecionou-se a superfície contida no Rhinoceros 3D > ajustar sliders. Clicou-se, então, na última pilha SDiff com botão direito > Bake > group “yes, please” > selecionar estrutura > file > export selected, onde o arquivo foi salvo em formato .STL.
V. Parametrização das estruturas e vedações das superfícies utilizando técnica Voronoi nos software Rhinoceros e Grasshoper
Utilizando o Rhinoceros 3D e o Grasshopper, a face do modelo foi isolada e parametrizada segundo a técnica Voronoi. Ou seja, o reticulado 2D da face modelo permitiu gerar, naquela área isolada, um diagrama de favo de mel irregular, com hexágonos iguais e pontos simétricos.
A abertura da face Voronoi superior, levemente inclinada em relação ao modelo, foi regulada a proporções medianas, imaginando sua aplicação como janela, como tratado na abordagem conceitual. A abertura da face inferior, que atuaria como portal, foi pensada em uma malha larga, que fosse acessível e proporcional às dimensões de um portal.
VI. Impressão 3D das superfícies paramétricas e acoplamento na maquete física.
Tendo como base o modelo 3D do pavilhão já impresso, em dimensões reduzidas para análise e comparação, executou-se a maquete física. Assim, imprimiu-se a planificação, em tamanho A2, que foi colada sobre um papel paraná, recortada e montada. Em seguida, as faces que receberiam os modelos Voronoi foram recortadas, retiradas e estabilidadas com acetato translúcido, que proporcionou vedação e firmeza na aplicação da malha Voronoi. O acetato foi concebido como um modelo de membrana vítrea ou polimérica, que auxiliaria na proposta.
Tendo o modelo Voronoi concebido e digitalizado, o arquivo foi enviado à impressora 3D. A face superior foi materializada com êxito, mas a face inferior, apresentou problemas não identificados, que culminaram na impressão de uma malha Voronoi fora da escala e angulação determinadas.
Por isso, colou-se apenas a face superior. Optou-se pela colagem do acetato na face inferior (portal) do modelo, mantendo a proposta de membrana e integração do elemento de passagem, que, homogêneo, passa a integrar e camuflar-se na estrutura. O erro de leitura verificado durante a impressão da face inferior foi benéfico, como registro do comportamento e processo da concepção e impressão 3D de objetos paramétricos. O modelo foi apresentado aos outros grupos e em fase de discussão e experimentação, inseriu-se iluminação dentro do modelo físico, observando seu comportamento e concepção estética final.
Verificou-se que, a partir de um mesmo cubo-base, em uma mesma atividade e com o mesmo processo de parametrização foram concebidos modelos diferentes de pavilhão, que carregavam, também, as impressões e bagagens pessoais dos autores.
O workshop Pavilhão OpenSource, que originou a proposta do Tsuru Pavilion, contribuiu significativamente para a abertura de diversos questionamentos e reflexões acerca da produção dos espaços, sobretudo a partir do fim do século XX, com a inserção potencializada de redes e elementos de comunicação e conexão. Notou-se a intensificação da individualidade nas percepções acerca da produção arquitetônica, mas, também, a possibilidade de composição de espaços open design e elementos de coletivização.
As integrantes do grupo de concepção do modelo Tsuru Pavilion destacam a necessidade de levantar questões teóricas, lógicas e filosóficas, que foram abordadas durante a disciplina, corroborando à concepção projetual. A reflexão teórica realizada durante os meses anteriores, relacionada à prática projetual, permite a implementação de uma arquitetura mais integradora, possível, universal e que participe e reflita as expectativas dos usuários locais.